quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

POLÍTICA DO TERROR

A MÁFIA NA POLÍTICA

A iniciativa dos congressistas, de aumentar seus próprios salários, pode ser colocada na conta da rotina. Para entender do que se trata, não basta citar os porcentuais dos reajustes. É preciso também observar que, com o aumento, os parlamentares e ministros de Estado passam a ganhar mais ou menos o mesmo que um editor-chefe ou diretor de Redação na imprensa nacional. Esse salário, em torno de R$ 26 mil mensais, é também o que ganha, em média, um diretor de empresa. Portanto, o valor não chega a ser um absurdo.
O que a imprensa deveria vasculhar é o "por fora" – ou seja, a quantidade enorme de benefícios e ajudas de custo que multiplicam os ganhos dos parlamentares. Essa é uma das causas pelas quais a atividade política no Brasil é uma forma de ascensão social, motivação declarada da candidatura do palhaço Tiririca. Ao apresentar dessa forma a rotina do Congresso, a imprensa acaba justificando a frase segundo a qual, seja lá quem for eleito, "pior do que está não fica".
Mas há controvérsias nesse lugar comum. Pode ficar muito pior, sim. Veja-se, por exemplo, o caso do assassinato do prefeito de Jandira, na região metropolitana de São Paulo. Segundo as primeiras apurações da polícia, Walderi Braz Paschoalin, do PSDB, morto por pistoleiros armados com fuzil e submetralhadora, estava envolvido em corrupção. Até aí, nada muito fora da rotina. O leitor já não se surpreende com notícias de violência na disputa pelo dinheiro público. Mas na quinta-feira (16/12), os jornais paulistas reproduzem uma informação que já havia sido publicada no sábado (11) pelo Correio Brasiliense: os quatro suspeitos de haverem cometido o crime seriam integrantes da organização criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital. Segundo o Estado de S.Paulo, pelo menos um deles seria parente de um vereador do município de Jandira.
O líder dos pistoleiros seria segundo reportagem da Rede Record, braço direito do "empresário" Ney Santos, apontado como responsável por lavagem de dinheiro do PCC e ex-candidato a deputado federal pelo PSC. Neste ponto, o noticiário exige uma atenção especial. Tratar como rotina o jogo de interesses e a corrupção na política é quase uma leviandade, mas passar por cima de evidências de que o crime organizado interfere na administração de uma cidade e tenta eleger deputados é falta de interesse jornalístico. O jornalismo investigativo agoniza.
Por Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa.

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